terça-feira, 14 de junho de 2011

Jalapão no Globo Repórter


A cor da água, verde esmeralda, lembra o mar do Caribe. O solo arenoso facilita a absorção da água e alimenta as nascentes. E no meio da biodiversidade local encontramos o fervedouro, onde é impossível afundar. O Globo Repórter foi até uma região intocada do cerrado e suas formas. Veredas, chapadas e rios recortam a imensidão. É a beleza em estado bruto. No coração do Brasil, a natureza pulsa em um ritmo próprio. A vida selvagem revela surpresas, e você é o nosso convidado para viver esta aventura.
Desbravamos o centro do país, no estado do Tocantins, por rios e estradas que parecem sem fim. Percorremos mais de quatro mil quilômetros em uma terra repleta de enigmas, que podem surgir de qualquer lugar, até do céu.
Na pequena Bielândia, de dia, a vida é pacata. Mas, quando o sol começa a se por, vemos outro tipo de morador voltar para casa. Os periquitos surgem de longe, em grupos ou casaizinhos, e vão se alojando na copa dos eucaliptos. Às 18h, eles já são centenas, na maior algazarra.
De repente, um comando faz com que, exatamente ao mesmo tempo, se lancem em uma revoada. Em seguida, voltam aos galhos para passar a noite. "Eles vêm às 18h. Aí ficam um pouco. Depois, eles começam a rodear a cidade, fazendo muito barulho", conta Sallycson Milhomem, de 11 anos.
É um espetáculo diário, com a mesma coreografia impecável.
Rumamos para o leste, no sentido Jalapão, um território de oito municípios em uma área de 34 mil quilômetros quadrados. Longas estradas empoeiradas nos desafiam. Em quatro horas de viagem, cruzamos com apenas um carro, mas logo nos deparamos com os verdadeiros donos do caminho.
O gavião carcará, uma ave de rapina, caminha pela estrada e só depois nos dá passagem. Outro nos observa de cima. O tatu corre ligeiro, parece pressentir algum perigo. Os bichos são mesmo maioria na região. A densidade demográfica do Jalapão é de menos de um habitante por quilômetro quadrado, um lugar onde é fácil ouvir o silêncio que é quebrado com uma cantiga.
Conhecemos a aposentada Hermínia de Souza quando ela vinha no lombo do cavalo, após andar horas para comprar mantimentos no povoado perto de onde vive. Ao todo, são seis quilômetros. Aos 73 anos, ela mora só, sem vizinhos próximos.
Globo Repórter: A senhora não tem medo de morar sozinha?
Hermínia de Souza, aposentada: Eu não. Quando dá de noite, minhas ferramentas ficam debaixo da cama. A policia da minha casa é eu.
Globo Repórter: E os bichos?
Hermínia de Souza, aposentada: Eu não tenho medo de bichos.
A aposentada fala com orgulho da sua origem: "sou nascida e criada aqui no Jalapão. Aqui é o coração do mundo, as veias, os rios da água doce saem todos dessa serra".
É a sabedoria da dona Hermínia. Os rios são mesmo abundantes.
Na região conhecida como Sertão das Águas, existe uma riqueza de nascentes, córregos, rios e cachoeiras. Nela, a natureza é exuberante e encanta visitantes como nós.
A cor da água, verde esmeralda, lembra o mar do Caribe. O solo arenoso facilita a absorção da água e alimenta as nascentes. E assim encontramos um fenômeno: o fervedouro, onde é impossível afundar.
"É um fenômeno chamado ressurgência hídrica. Acontece que o lençol freático não encontra vazão sob a camada de rocha que é impermeável, e ele nasce com essa pressão que impede que as pessoas afundem. Então, a água sai com muita pressão, pelas fendas, e causa esse fenômeno que a gente fica vendo, borbulhando por baixo da areia", explica a bióloga Cassiana Solange Moreira.

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